Aécio se reúne com Henrique Capriles, líder da oposição na Venezuela



O líder da oposição venezuelana, Henrique Capriles, disse nesta terça-feira (14) em Brasília que espera que “tenha acabado a indiferença do Brasil” sobre a situação de seu país. Capriles falou após encontro com senadores aliados do presidente em exercício, Michel Temer, no gabinete de Aécio Neves , presidente do PSDB.

A Venezuela enfrenta uma grave crise política e econômica, com recessão, inflação em alta, falta de produtos alimentícios e medicamentos e protestos contra o presidente Nicolás Maduro.

A oposição tenta convocar um referendo para revogar o mandato de Maduro e apresentou à justiça eleitoral mais de um milhão e meio de assinaturas de apoio. Mas, segundo Capriles, aliados do governo tentam impedir a realização da consulta. O líder da oposição disse que veio ao Brasil pedir ao governo que exija que a Constituição da Venezuela seja respeitada.

"Esta é a hora de o governo do Brasil defender os princípios constitucionais, os princípios democráticos, a autodeterminação de nosso povo. Maduro não pode se colocar acima da Constituição [...] Nos dói a indiferença do Brasil. Espero que tenha acabado a indiferença do Brasil, é isso que eu espero do Brasil", afirmou.

Na próxima semana, haverá uma reunião da Organização dos Estados Americanos (OEA) para discutir a situação da Venezuela. Capriles espera que o Brasil defenda a realização do referendo no seu país.

Capriles evitou comentar a crise política brasileira, dizendo que não queria "se meter" nas questões internas do país. No entanto, o venezuelano lembrou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez interferências na campanha presidencial que elegeu Maduro na Venezuela.

"Cada país tem sua realidade. Aqui vocês tem sua realidade, na Venezuela temos nossa realidade. Mas se alguém foi vítima da ingerência fui eu. O ex-presidente Lula se meteu na campanha eleitoral quando eu fui candidato contra Maduro. Ele fez um vídeo em que pedia votos a Maduro. Isso é inaceitável", lembrou Capriles.

Presente à reunião, Aécio disse que vai pedir a Temer que o governo brasileiro, na reunião da OEA, mude de postura e defenda o referendo venezuelano.

"Se o impeachment é uma previsão constitucional no Brasil, o referendo é uma previsão constitucional na Venezuela e deve ser respeitado", disse o senador.

Estiveram na reunião com Capriles, além de Aécio, os senadores Aloysio Nunesx (PSDB-SP), líder do governo, José Agripino Maia (DEM-RN), Ricardo Ferraço (PSDB-ES), Sérgio Petecão (PSD-AC), Ronaldo Caiado (DEM-GO) e José Medeiros (PSD-MT), além do deputado Antonio Imbassahy, líder do PSDB na Câmara, e do ministro das Cidades, Bruno Araújo.

Ainda nesta tarde, Capriles se reunirá no Palácio do Itamaraty com o ministro das Relações Exteriores, José Serra.

Referendo

O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela disse na última sexta-feira (10) que vai iniciar um processo de confirmação das assinaturas entregues de cidadãos que defendem um referendo revogatório do mandato do presidente Nicolás Maduro.

A etapa de confirmação de assinaturas começará no dia 20 de junho e deve durar cinco dias. Na semana que vem, a comissão eleitoral vai permitir que os cidadãos que desejem retirar os seus nomes de uma lista de 1,4 milhão de assinaturas válidas o façam, disse Tibisay Lucena, chefe da comissão, numa entrevista à imprensa.

Próximas etapas

Cumprido este requisito, o CNE fixará uma data para o referendo revocatório, em que a oposição precisará superar os 7,5 milhões de votos obtidos por Maduro em 2013, quando foi eleito para um mandato de seis anos, até 2019.

Se a consulta acontecer depois de 10 de janeiro de 2017, quando o mandato presidencial completa quatro anos, e Maduro for derrotado, os dois anos restantes serão completados pelo vice-presidente, designado pelo chefe de Estado. Se o referendo acontecer este ano e o chavismo for derrotado, novas eleições serão convocadas.

Essa hipótese é rechaçada pelos oposicionistas liderados por Capriles, que querem que o referendo seja realizado ainda em 2016.

O governo de Maduro descarta a possibilidade de um referendo revogatório em 2016, alegando que os prazos legais não permitem o que a oposição deseja.

http://g1.globo.com/politica/noticia/2016/06/lider-da-oposicao-venezuelana-se-reune-com-parlamentares-governistas.html